Tudo começou quando eu decidi aprender a bordar durante uma curta temporada na casa da minha mãe, em Brejo Santo, interior do Ceará, em 2005. Com duas professoras de mão cheia, minha avó Edith (filha da Samariquinha, minha bisa) e minha mãe, não foi difícil aprender os primeiros pontos. Passávamos horas em frente à TV, bordando e conversando. Entre risadas, tapiocas, bolos e cafés quentinhos, fui adentrando ao mundo das agulhas e linhas. Nessa época eu sequer imaginava que um dia ia aprender a bordar e costurar. Eu trabalhava como repórter numa agência de notícias da América Latina, a
ADITAL, em Fortaleza e estava mais familiarizada com os movimentos sociais e políticos desse continente, do que com as texturas e cores do mundo do bordado.
Ao voltar daqueles dias no interior, comecei a bordar camisetas com os míseros três pontos que consegui aprender. As primeiras foram para mim mesma, mas as encomendas de amigas não demoraram a chegar.
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Essa foi uma das primeiras encomendas |
Nessa época eu morava a poucas quadras da maior feira de artesanato de Fortaleza, onde as rendas sempre foram às protagonistas. Logo tive a idéia de misturar as tais rendas aos bordados nas camisetas, pois sempre acreditei que àquelas obras de arte deveriam brilhar mais no vestuário e não somente nos acessórios de cama ou cozinha.
Logo depois fui fazer um curso com Martha Dumont, uma das grandes bordadeiras do Brasil que estava expondo em Fortaleza, quadros produzidos por ela e as irmãs. Elas e mais um irmão, responsável pelos desenhos formam a famosa
Família Dumont. Durante aqueles dias, descobri no bordado um valor imensurável, tanto existencial quanto de beleza mesmo. Descobri-me bordadeira, tendo a nítida certeza de que um dia ia trabalhar de verdade com isso. Lembro-me como se fosse hoje, voltando para casa, pelo calçadão da praia e vendo as paisagens sendo bordadas na minha mente. Parece que tudo poderia ser bordado! Martha tem uma técnica livre, onde o que você vai bordar sai dos seus próprios desenhos e com movimento, ainda mais, sem preocupação alguma com o avesso. Ela dizia que muitas mulheres deixaram de bordar devido ao excesso de preocupação com o avesso. Ela expôs os quadros de uma forma que o avesso caótico também poderia ser observado.
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Meu trabalho feito no curso da Martha Dumond |
Ali, bordando as camisetas escolhi o nome da minha marca:Samariquinha. Eram muitos nomes numa lista que passou pela consulta de amigos que me ajudaram bastante a decidir, pois argumentavam que era um nome com significado e história. Uma sinhá Mariquinha que fazia renda de bilros quando jovem e que todos a chamavam de Samariquinha. Tinha olhos azuis, fundos e tristes, sempre almoçava rodeada de gatos e fazia o queijo de coalho mais gostoso que já comi na vida.
Aguardem os próximos capítulos dessa história, assim como o sorteio que irei lançar em dezembro.
P.S: Hoje não me sobra tempo para costumizar as camisetas, mas não desiti desse projeto.