quarta-feira, 7 de março de 2012

A Samariquinha se inspira e divulga: Mônica de Godoi


A entrevistada de hoje representa muito bem a garra e a determinação de muitas mulheres brasileiras. Mônica de Godoi abandonou o mundo executivo de alto padrão para mergulhar na leveza das sedas, cores e vapores. Uma alquimia que deu certo e exigiu não só coragem, mas apoio e uma vontade veemente de transformar sonhos em realidade. 

Hoje além de professora, Mônica tornou-se artista plástica premiada e reinventa-se a cada trabalho. Apostando nas novas tecnologias e investindo nas línguas que domina, a artista ministra aulas também para estrangeiros. 

Desde que ouvi essa história pela primeira vez, num encontro nosso em seu atelier, pensei: Preciso contar isso no blog!

Caro leitor, sente-se conforável, pois o papo será meio longo, mas cheio de dicas importantes para todos que desejam investir naquele sonho adormecido ou que já batalham por ele há algum tempo. 
Mônica com a mão na massa

1-De secretaria executiva trilingue à artista plástica e professora. Conta os detalhes dessa trajetória.

Minha vida profissional sempre foi muito corrida e de muitas responsabilidades. Era secretária executiva de alto escalão e sempre estive envolvida em muitos projetos. Entretanto, já estava desgostosa com a carreira de secretária e principalmente muito cansada de não ter tempo para dedicar à família e a algum hobby que me desse prazer. Naquele tempo, eu ainda nem imaginava trabalhar com tintas e pincéis, apenas sabia que tinha tido uma inesquecível experiência com a arte da pintura em seda em um momento de lazer em férias na Bahia.

Então, num momento em que estava grávida de 5 meses da minha filha Catarina, tive uma oportunidade única de largar tudo e tentar ser feliz de outro modo. Não hesitei e fui adiante. Não posso dizer que não tive medos ou receios. Mas sempre soube que não poderia  deixar de tentar. Quando assinei toda a papelada da rescisão, confesso que fiquei com um nó na garganta diante do futuro incerto. Mas resolvi que ia ser feliz. E fui atrás de cursos de pintura em seda, a princípio para me descontrair e ter um hobby. Mas  o gosto pela coisa  foi crescendo, crescendo e então veio à idéia de começar a pintar peças para presentear amigos e familiares. E vieram algumas encomendas. Daí  começou a surgir o projeto de um atelier, inclusive com a possibilidade de ministrar aulas e cursos., afinal, apesar de muito prazeroso, o ato criativo pode ser muito solitário e eu queria pessoas ao meu redor. 

Alunos franceses no atelier

2-Depois de abandonar uma carreira promissora, houve uma certa pressão da família, marido ou sua mesmo? Ou foi algo tranqüilo, seguro...
No começo foi muito difícil principalmente por ouvir tantas exclamações de familiares, amigos e conhecidos. “Como assim? Você tem um emprego estável, ganha um salário excelente, tem um ótimo plano de saúde, previdência privada, 2 filhos para sustentar.... Como vai se virar assim, jogando tudo para o alto?”. Minha sorte é que meu marido Silvio sempre me apoiou e me incentivou muito.

O grande apoio

Ele acreditou no meu talento, na minha vontade  de crescer profissionalmente em uma nova atividade, enfim, sem ele, provavelmente eu não teria tido a garra de continuar indo adiante. Além do quê, ele é quem teria que sustentar, praticamente sozinho, a casa, as crianças e todas as despesas que afligem os  trabalhadores desse país.

O atelier

3- Quando nasceu o atelier? Logo você iniciou as aulas?

No final de 2004 comecei a procura de um local para ser meu atelier. E em 2005 o Atelier  Mônica de Godoi Arte & Pintura em Seda finalmente abria suas portas ao público e às alunas. Foi maravilhoso. E continua sendo!

4-Quando começaram os convites para exposições de arte?Quais as mais relevantes que você já participou? 


Em 2006, eu fazia aulas de desenho no Clube Paineiras do Morumby, para aprimorar meu olhar artístico e também tentar outros materiais, que não as tintas para tecidos. Surgiu a oportunidade de participar de um Salão Interclubes de Artes Plásticas. Inscrevi dois trabalhos meus: “Moradas”, técnica mista sobre seda, e “Flores e Frutos”, desenho em pastel sobre papel. Fui selecionada e premiada na fase interna do Clube Paineiras, com os dois trabalhos. “Moradas” levou o 1º lugar na Categoria Instalações e Expressões Contemporâneas e “Flores e Frutos” ficou com o 3º lugar na Categoria Desenho. Aquilo para mim foi um grande passo e uma grande conquista. A partir dali, fui convidada pela Galeria Mali Villas Boas a integrar seu quadro de artistas contemporâneos e participei de muitas exposições e salões de arte. Considero como mais importantes as minhas participações nas exposições coletivas “Bossa Nova 50 Anos”, “Reflexões sobre Heitor Villa-Lobos”, “Reflexões sobre Tarsila do Amaral”, “Olhar Brasileiro sobre a Francofonia” e “Expoparty Entrepanos”, além, claro, de uma exposição individual, “Talentos do Paineiras”, no Clube Paineiras do Morumby. Fazer arte e criar são atividades maravilhosas e desde que comecei a explorar esse meu lado, não quero mais parar. 

Uma da participações na Entrepanos com sua obra ao fundo
5-Atualmente você consegue viver da sua arte? Como o seu negócio é administrado? 
Quando entramos no assunto “satisfação financeira”, é bem delicado dizer se estamos ou não satisfeitos. O fato é que, acostumada por muito tempo a um excelente salário fixo, no tempo em que era secretária, trabalhar com salário variável, sem 13º, sem férias, sem auxílio-maternidade, sem vale-transporte, sem plano de saúde e previdência privada, tudo fica um pouco mais difícil. Entretanto, fazer o que se gosta, ou melhor, fazer o que se ama, não tem preço. Tudo acaba se encaixando e a coisa progride, sempre para melhor. Não posso reclamar. Tenho somente a agradecer, a Deus, a meu marido e meus amigos, que sempre me incentivaram e me ajudaram a tocar a bola pra frente, com fé e muita esperança de que tudo vai acontecer da melhor forma possível, de modo que possa sempre viver de meu trabalho e de minha arte, sem medo de ser feliz.


6- Fala sobre a sua experiência com feira e bazares.Ainda participa?
Logo no início achei interessante começar a participar dos bazares que aconteciam no Clube da qual sou sócia. No primeiro ano em que participei, tinha principalmente cangas e almofadas pintadas à mão e fiz uma venda excepcional. Alguns diriam (e eu concordo!) que era “sorte de principiante”. Depois participei de outros bazares
não tão bons assim, mas nunca deixei de vender e sempre conseguir um bom lucro. O problema é que a gente sempre quer um lucro “excelente”.  Dali, continuei participando em alguns bazares na escola de meus filhos, por um tempo relativamente pequeno (2 ou 3 anos), além dos tradicionais bazares do meu Clube, nos quais sempre estou presente. Acredito que é uma boa forma de divulgação dos produtos, captação de alunas e contatos, mas não sou adepta de participar de muitos e em pouco espaço de tempo entre um e outro. A clientela às vezes fica saturada, você se desgasta muito e vende pouco. Assim, eu prefiro selecionar uns 2 ou 3 durante o ano todo, para que você tenha tempo de criar, expor e vender, sem se desgastar. A pessoa que deseja participar de feiras e bazares também deve está preparada para vender muito pouco ou quase nada, pois já vi isso acontecer muitas vezes. Graças a Deus, nunca comigo, mas dependendo do tamanho da sua concorrência, isso pode acontecer. Um exemplo são as pessoas que trabalham com bijuterias e que às vezes tem que disputar o seu espaço com muitos concorrentes num mesmo bazar.




Espaço Mônica de Godoi em um bazar
7-Você usa material importado(tintas)  no seu trabalho, poderia destacar qual é mesmo a diferença no produto final? 


A pintura em seda abrange uma vasta gama de materiais em sua totalidade. Basicamente nossa matéria prima compõe-se de seda, tintas e pincéis, mas podemos usar diversos e inusitados materiais, como folhas naturais secas, rolhas, palitos de sorvete, esponjas, conchas, pedras, entre tantos outros. A tinta que eu uso (Prince) é feita no Brasil, mas a matéria prima de seus componentes é importada da Alemanha. Essa tinta requer fixação a vapor, o que garante a textura, a maciez e o brilho da seda. É possível fazer pintura em seda com tintas de fixação a frio ou a ferro, mas  elas alteram a textura da seda e o toque final não é natural nem agradável ao toque. Assim, considero o trabalho da pintura em seda com fixação a vapor um trabalho de alquimia mesmo, onde importantes elementos da natureza, como a água e o fogo, entram em ação para lapidar o produto final.

Além das tintas, temos também que saber escolher as sedas. Elas existem há milhares de anos e possuem várias diferenças entre si. Temos as mais leves, como a pongé 5, o chiffon e o voile, ideal para lenços e echarpes, até as mais encorpadas, como o jaquard, o crepe de chine e o cetim, ideais para moda e vestuário, a dupion e o shantung para peças de decoração e design.  A variedade é muito grande e é necessário conhecer as diferenças para não jogar dinheiro fora, uma vez que é um tecido bastante caro e nobre.


Os pincéis adequados para a pintura em seda são os macios, de cerdas naturais ou sintéticas. Mas quem trabalha com tinta deve sempre estar preparado para testar novas possibilidades e muitas vezes substituir os pincéis por palitos, esponjas e até mesmo os dedos das mãos.

8-Qual a importância da Internet e redes social para o seu negócio?Quais ações você costuma desenvolver para atrair clientes?
No início, anunciava minhas aulas em um jornal que circulava no meu bairro e adjacências, o “Circular”, e também pude divulgar as aulas no Clube Paineiras do Morumby, do qual sou sócia, e onde ministrei vários workshops. Aos poucos, o Atelier foi ficando mais conhecido. Também divulguei muito por e-mail, enviando mensagens sobre os cursos e as aulas para todas as pessoas do meu mailing list, que ia crescendo a cada dia.


Veio à vontade de ter um site e uma amiga muito querida me ajudou nisso. Além do site (www.monicadegodoi.com.br), também tenho dois blogs, que tento administrar sozinha, apesar de não conseguir fazer postagens diárias, por conta da falta de tempo. O meu blog “Fazendo Arte com Seda”, www.fazendoartecomseda@blogspot.com, foi duas vezes consecutivas indicado para o Prêmio TopBlog e conseguiu ficar entre os 100 blogs mais votados na categoria Variedades. Tenho também o blog “Atelier Mônica de Godoi – Arte & Pintura em Seda”,  www.ateliermonicadegodoi.blogspot.com,  além do meu fotoblog www.flickr.com/monicadegodoi, onde compartilho mais de 7.000 fotos.

Com o auxílio do  maravilhoso mundo tecnológico e com a internet ao alcance de todos, ficou muito mais fácil divulgar o atelier e as aulas. Além, lógico, de ter também montado a minha loja virtual www.elo7.com/fazendoartecomseda , que oferece ao cliente todos os produtos finalizados aqui do Atelier, além de diversas formas de pagamento, inclusive cartão de crédito.

Toda e qualquer divulgação feita pela internet é sempre vista por milhares de pessoas, de várias cidades, estados e países, várias faixas etárias e classes sociais. Por isso é sempre mais fácil atrair olhares para o seu trabalho, desde que você mantenha site e blogs ativos e não estagnados, e sempre faça parte de redes sociais, como o Facebook. Aliás, o Atelier também conta com uma página no Face, com link para  a loja virtual do Elo7. Tudo muito prático e extremamente importante para uma boa divulgação.

9-Como você recicla o material que é descartado do atelier?
Desde que comecei meu trabalho no atelier, nunca fechei as portas para novas idéias e alternativas. Isso é que faz o trabalho do artista único e exclusivo. Por isso, comecei a me transformar em uma verdadeira rainha da sucata. Nada em meu atelier é descartado, nem mesmo os retalhos de seda, por menores que eles sejam.
reciclando e tricotando

Tudo é novamente usado, dando nova vida a caixas de madeira e  garrafas de vidro, que se transformam em lindas peças de decoração.

10- Conta um pouco sobre o teu método didático nas aulas. 
As aulas no atelier são totalmente livres e flexíveis, tanto no que diz respeito às técnicas escolhidas, quanto a datas e horários. Gosto de deixar minhas alunas à vontade para poderem criar naturalmente, sem nenhum tipo de imposição. Obviamente, considero cada sugestão, cada dúvida, cada comentário. E procuro dar todas as respostas possíveis, dentro do universo do que conheço e de minha própria experiência. 
técnica casca de árvore

Muitas vezes, sugiro cores e desenhos diferentes, mas cada aluna tem toda a autonomia para criar e fazer do jeito que melhor lhe aprouver. Ensino as técnicas, o melhor modo de fazer e de se chegar a um resultado, mas a escolha e decisão final são sempre das alunas. 

técnica Frotage

As aulas também incluem alguns ensinamentos do tipo “extra-classe”, como o jeito correto de lavar as peças em seda e truques para se descobrir se a seda é 100% pura ou não. Outro grande atrativo do Atelier são as aulas ministradas em inglês. Tenho várias alunas de outras nacionalidades e isso é muito bom, não só pelo contato que posso ter com pessoas de outras culturas, como também para manter o meu inglês na ativa. Também falo francês e italiano e por incrível que pareça já tive alguns alunos vindos da França. 



11- Você é mãe, esposa e seu atelier fica na sua casa, como se organiza?
O grande desafio de se trabalhar em casa, com marido e filhos “circulando” no seu local de trabalho, nem sempre é uma tarefa fácil. Muitas vezes, a empregada também confunde as coisas e sempre acha que você está à disposição para atender qualquer tipo de telefonema, qualquer problema que diz respeito à casa, almoço e jantar. Enfim, interrupções são frequentes, mas graças  a Deus nunca tive problemas sérios, pois a grande maioria de minhas alunas também é mãe e avó, o que facilita muito a compreensão. De qualquer forma, eu procuro sempre deixar as alunas totalmente à vontade em seus momentos de criação e lazer e estou sempre à disposição para tudo o que elas necessitam, de tal maneira que o ambiente é muito agradável e não há espaço para problemas.

12-E sobre a inspiração, em que fontes você bebe? Tem algum artista no ramo da pintura em seda que te serve de inspiração? 
Todas as pessoas que trabalham com cores, tintas e pincéis, de uma forma ou de outra costumam inspirar-se nos grandes mestres que escrevem a história da arte... Mas devo confessar que minhas maiores inspirações vêm da natureza, dos pássaros, das flores e das cores, dos movimentos do vento e do farfalhar das folhas. Crio minhas peças com inspirações diversas, de momento, que me fluem naturalmente, sem muito pensar ou estudar. Não costumo fazer desenhos ou croquis do que será o trabalho final. Misturo cores, sempre com alegria e entusiasmo, e nunca me arrependi do resultado. Muitas vezes até exagero na combinação de cores, mas isso só vem confirmar a minha teoria de que não existe certo ou errado na arte. Existem, sim, sentimentos, emoções e sensações. O resto é bobagem!
Sachês perfumados

Mas obviamente muitas pessoas me serviram de exemplo para continuar criando, sem contar, lógico, a grande ajuda e os ensinamentos que recebi de pessoas que chegaram bem antes de mim no mundo da pintura em seda, como a Denise Meneghello, que continua sendo minha grande mestra. Com ela aprendi muito do que sei e continuo a frequentar as aulas em seu atelier, para poder sempre aprimorar meus conhecimentos e minha técnica de pintar. Uma outra pessoa que admiro muito e que tem um olhar totalmente voltado para a arte é a artista Laila Guimarães, que faz trabalhos lindíssimos sobre seda. Suas rosas, em especial, constituem um dos focos de minha grande admiração, além do maravilhoso dom de desenhar rostos com perfeição e muita técnica.

Para mais informações sobre o trabalho de Mônica acesse os links da entrevista.


5 comentários:

  1. Mi, minha querida, você é maravilhosa! Obrigada pelo carinho! Apenas uma pequena correção: a segunda foto não sou eu, mas sim uma aluna. Aquela mão na massa não é minha (rsrsrs). Um super beijo e obrigada pelo presentão na véspera do dia internacional da mulher!!! Você é uma querida!

    ResponderExcluir
  2. Parabéns, Micheline, por ter escolhido a Mônica para entrevistar, às vésperas do Dia Internacional da Mulher. Realmente foi uma escolha de excelência, como de excelencia é o trabalho desse ser humano tão especial, que não sonega o conhecimento que tem e tem se destacado no mundo das artes plásticas pelo seu grande talento!
    Existe um provérbio que diz: "Viste o homem perito no que faz? Perante reis será posto; não permanecerá entre os de posição inferior."
    Isso não se refere somente ao homem, gênero masculino, mas tb à mulher e nesse caso, Mônica de Godoi está completamente inserida desse contexto.
    Parabéns à Mônica e à tds as mulheres que a exemplo dela, tem tido a coragem de acreditar nos seus sonhos e deixado aflorar seus talentos.


    É isso aí!

    ResponderExcluir
  3. Silvia Assumpção, minha amiga do coração e da alma!!!!! Um beijo prá você!!!!

    ResponderExcluir
  4. Parabéns pela coragem e ousadia de largar o mundo corporativo e ser feliz na criação de trabalhos lindos, vc tem talento!!um abraço.

    ResponderExcluir
  5. Rita, obrigada pelas palavras, pelo apoio e pelo incentivo de sempre!!!!! Um beijo grande!!!

    ResponderExcluir